A Polícia Federal abriu uma nova etapa da investigação e identificou lavagem de dinheiro por meio de lanchonetes no ABC Paulista, com movimentações que somam mais de R$ 30 milhões. Em Santo André, uma lanchonete em rua de comércio popular movimentou quase R$ 15 milhões em seis meses de 2023 e outra, a poucas quadras, recebeu R$ 17 milhões em quatro anos. Os dois estabelecimentos pertencem ao mesmo proprietário e foram alvo de busca e apreensão em 16 de outubro. A principal hipótese é que os faturamentos atípicos tenham sido usados para lavar valores do tráfico internacional de drogas.
Segundo a apuração, três homens presos em São Paulo teriam estruturado uma rede de negócios para esse fim: Klaus Volker e Filippe Rocha, ligados a empresas de transporte e locação de veículos, e Maicon Maia, ex-policial militar, apontado como doleiro. A PF afirma que o trio lavava dinheiro para pessoas ligadas ao PCC. Preso desde janeiro, William Barile Agati, descrito como faz-tudo da facção, aparece como beneficiário do esquema. Em mensagens encontradas no celular de Agati, investigadores identificaram dados das lanchonetes como destinatárias de repasses e conversas sobre pagamentos de logística do tráfico, incluindo referência a R$ 50 mil para transporte de cocaína ao exterior e menções a “subida e descida” da droga.
As mensagens também citam transferências e notas fiscais emitidas em nome de empresas de vários setores. A PF aponta o uso de fábrica de placas de sinalização, empresa de pisos, igreja e clínica da área da saúde. Em um diálogo, os investigados ironizam o uso do CNPJ de um consultório odontológico para notas frias. A operação ainda realizou buscas em uma distribuidora de combustíveis do interior de São Paulo, que movimentou quase R$ 1 bilhão em dois anos, e em duas fintechs. De acordo com a PF, os investigados movimentaram R$ 2 bilhões em quatro anos por meio da economia formal para dar aparência lícita ao dinheiro.
As defesas começaram a se manifestar. O advogado de Felipe Rocha afirma que provará a inocência do cliente e repudia a associação ao crime. A defesa de William Barile Agati diz que ele é alvo de perseguição e informa ter ingressado no STJ com pedido de libertação. Não houve contato confirmado com as defesas de Klaus Volker, Maicon Maia e do dono das lanchonetes.
No eixo de Maringá, o prefeito Sílvio Barros informou em 17 de outubro que aceitou o pedido de licença do secretário da Fazenda, Carlos Augusto Ferreira, após busca e apreensão da PF em 16 de outubro. O superintendente Alessandro Barbosa foi designado interinamente. A Prefeitura reiterou que, na nomeação, todas as certidões estavam regulares e que o caso não tem relação com a gestão municipal. Em nota, a defesa de Carlos Augusto Ferreira sustenta que houve erro de homônimo em prints de conversas divulgados pela imprensa e atribui o número de telefone visto nos registros a “Carlao Carlos Pim Banc” (+1 786 337-1938), identificado como Carlos de La Cruz Hyppolito, sócio do Pinbank Brasil. O secretário nega vínculo com os fatos e afirma ter comunicado a Defesa e o Ministério Público.
O histórico da Mafiusi aponta que a ofensiva começou em dezembro de 2024 com foco no envio de cocaína da América do Sul para a Europa por portos brasileiros, como Paranaguá, com destino a Valência e Bélgica, usando contêineres e aeronaves privadas, em cooperação com MPF, Ministério Público de Turim, Europol e Eurojust, e com ligações entre facções brasileiras e a máfia italiana. Em março de 2025, a investigação alcançou o futebol, quando relatórios do Coaf indicaram transferências de R$ 120 mil do empresário José Celso de Moraes para Rany Alessandra Arrabal, esposa de Willian Agati. Moraes admitiu as transações e disse se tratar de empréstimo; a PF apura injeção de recursos do tráfico em clubes e empresas esportivas por meio de contratos e patrocínios. Em 16 de outubro de 2025, a PF mirou o núcleo financeiro, com mandados em nove cidades e três prisões preventivas; em Maringá, houve busca na casa de Carlos Augusto Ferreira e apreensão de três carros de luxo. O inquérito cita oferta de estrutura de fintech para movimentação de recursos sem origem conhecida e contatos com investigados acusados de notas fiscais frias.
As linhas atuais de investigação incluem lavagem via fintechs, apostas e clubes esportivos, uso de empresas de fachada e conexões financeiras entre tráfico internacional, PCC e empresários brasileiros. A operação registra bloqueio superior a R$ 13,8 milhões em bens e valores e deve avançar no rastreamento de ativos no exterior e na identificação de ramificações políticas e empresariais.
Status: o secretário municipal está licenciado, o interino assumiu, e a PF mantém a apuração sob sigilo enquanto prossegue com diligências nas frentes comerciais e financeiras agora reveladas.
Com informações de G1.















