Um crime seguido de um linchamento brutal tirou a vida de Daferson da Silva Nunes, de 36 anos, em Cuiabá. Acusado publicamente nas redes sociais de cometer um estupro, o mototaxista procurou a polícia para se defender e, em um ato que se mostrou fatal, tentou conversar com seus acusadores.
O resultado foi ser sequestrado, torturado por seis horas e assassinado por integrantes de uma facção que atuava como “justiceiros”.
De acordo com a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Daferson tomou conhecimento na terça-feira (21) que era alvo de acusações de estupro e que sua foto circulava em redes sociais. Imediatamente, ele agiu para limpar seu nome: registrou um boletim de ocorrência por calúnia e difamação e, em seguida, marcou um encontro com os autores das ameaças.
Segundo o delegado Michel Paes, que comanda as investigações do homicídio, a intenção do piloto era “esclarecer os fatos”. No entanto, ao comparecer ao local combinado, ele caiu em uma armadilha. Em vez de um diálogo, sofreu um longo período de torturas, que durou cerca de seis horas, até ser executado com três tiros na cabeça. Seu corpo foi encontrado na manhã de quarta-feira (22) em uma estrada na região do Sucuri, com as mãos amarradas.
Facção age sob fachada de “justiça”
A investigação apurou que o homicídio foi cometido por membros de uma facção criminosa que se autointitula “justiceira”. O delegado Michel Paes foi enfático ao condenar essa prática. “Sem nenhuma técnica, sem nenhuma legalidade e sem autorização do Estado, eles praticam fatos mais graves do que as próprias vítimas, que eles acham que estão julgando”, declarou.
Paes alertou para o perigo de normalizar tais ações, lembrando que a sociedade vive sob um Estado Democrático de Direito. “Essas pessoas se fingem de justiceiras. O caso causa muita comoção, a gente quer justiça, mas a justiça tem que ser feita de acordo com o nosso estado”, afirmou. Ele ainda ressaltou que esses mesmos faccionados cometem uma série de outros crimes, como estupro, tráfico de drogas e tortura.
Andamento das investigações
Na quinta-feira (23), a Polícia Civil confirmou que o exame de corpo de delito da jovem de 21 anos atestou a presença de sêmen. No entanto, é importante destacar que os exames de DNA para confrontar o material com o perfil de Daferson ainda estavam em andamento. Ou seja, do ponto de vista legal, não havia uma confirmação conclusiva de sua autoria no momento em que ele foi linchado.
A delegada responsável pela investigação do estupro, Jéssica Cristina de Assis, já havia solicitado imagens da região e iria pedir a prisão preventiva de Daferson, mas ele foi assassinado antes que qualquer medida judicial fosse tomada.
Com informações de G1.















