Em algum momento, você provavelmente se deparou com um filme de James Cameron. Seja zapeando na TV tradicional, indo ao cinema ou no streaming. Nem que seja uma cena.
Pudera, esse diretor canadense emplacou três longas-metragens entre as quatro maiores bilheterias internacionais da história de Hollywood. Cameron é o rei dos blockbusters, ou seja, aquelas produções “arrasa-quarteirões”, tomando de assalto as salas de exibição.
Quem é um pouco mais velho, deve se lembrar de que “Titanic” (1997) ficou meses em cartaz em Maringá, ao final dos anos de 1990. Aliás, este filme com a história de amor proibido entre Rose (Kate Winslet) e Jack (Leonardo Di Caprio) entrou em cartaz novamente na quinta-feira, 9, em uma versão 3D e 4K, para celebrar os 25 anos de sua estreia.
O filme ainda arrecadou 2,2 bilhões de dólares em todo o mundo. É o terceiro mais visto da história hollywoodiana. Em 1º lugar, está “Avatar” (2009), de Cameron, com renda de US$ 2,9 bilhões; e “Vingadores: Ultimato” (2019, dir. Joe Russo e Anthony Russo), em 2º, com faturamento de US$ 2,7 bilhões.
E agora, o cineasta canadense acertou de novo. Seu “Avatar: O caminho da água” (2013) já está em US$ 2,174 bilhões e contando. É a volta do diretor ao universo de alta tecnologia e fantasia do primeiro filme lançado há 14 anos.
Para o jornalista de Maringá Marcelo Bulgarelli, James Cameron soube aproveitar bem a tradição do cinema norte-americano de espetáculo, principalmente nos anos de 1990 e 2000. “O Cecil B. DeMille já fazia isso muito bem nas décadas de 50, 60. Depois, tivemos os grandes cinemas de espetáculos na década de 70, com os blockbusters, meio assim Steven Spielberg. Mas James Cameron conseguiu ser bem oportunista, sabendo do potencial que tem em mãos, de algo que possa impressionar a plateia principalmente em efeitos especiais”.
Menos para Bulgarelli, que não gosta do cinema praticado pelo diretor da franquia “Avatar”. O jornalista avalia que o roteiro é frágil, “principalmente na construção de vilões”. A exceção da filmografia de Cameron é “Aliens, O Resgate” (1986).
Em resumo, segundo Bulgarelli, esse cineasta/produtor sabe vender um “filme pipoca” no sentido de diversão e agradar ao público.
Avatar
Passados 14 anos, as plateias de todo o mundo conheceram a esperada continuação de “Avatar”, verdadeiro deslumbre visual em 3D do final dos anos 2000. E a espera valeu a pena, pois “Avatar: O caminho da água” vai para sua nona semana nos cinemas do Brasil.
Ex-editor de cultura do antigo O Diário do Norte do Paraná, Marcelo Bulgarelli não ficou surpreso com o sucesso. “O ‘Avatar’ tem toda uma mitologia em torno dele. Ele sempre esteve na cultura pop”, destacando que havia expectativa para ver a sequência.
Outro detalhe apontado pelo jornalista é que “Avatar” é o tipo de produção para ser vista em grandes telas dos maiores cinemas. No streaming ou nas telinhas, perde-se muito de seu impacto. “O ‘Avatar’ já carrega toda uma áurea de cultura pop que atrai as pessoas”.
Inclusive, Bulgarelli observa que o espaço de tempo entre os dois filmes é curto, tornando assim possível atrair o mesmo público de antes.
Titanic
Com a volta do “Titanic” de 25 anos atrás, hoje Cameron tem dessa forma dois blockbusters em cartaz ao mesmo tempo.
“Ele [‘Titanic’] voltando agora para as grandes salas de cinema é uma grande jogada de marketing. É um filme que pode vir com uma nova roupagem, e quando digo ‘roupagem’ é um novo brilho, uma nova máster, para que possa garantir uma experiência interessante, tanto para os nostálgicos e também para os que estão agora apreciando esse tipo de ‘cinema catástrofe’”, diz Bulgarelli, dizendo que o roteiro desse longa-metragem não o agrada.
O jornalista morador da Cidade Canção prefere indicar outros filmes sobre o mesmo assunto, com histórias mais interessantes: “Somente Deus por testemunha” (1958), de Roy Ward Baker; e “Náufragos do Titanic” (1953), de Jean Negulesco, com Barbara Stanwyck no elenco. “Lógico, não vai ter os efeitos especiais e toda a grandiosidade que eu até admiro no filme de James Cameron. Mas são roteiros muito mais competentes, porque não mira somente o ‘cinema catástrofe’ ou ‘cinema espetáculo’”.
Cinema de rua
Ao final dos anos de 1990, “Titanic” (1997) dominou as salas de cinema de todo o Brasil, ficando em cartaz por mais de cinco meses.
Segundo o jornalista de Maringá Marcelo Bulgarelli, mais de 25 anos atrás ainda era normal esse tipo de fenômeno, muito por conta do cinema de rua. “Em me lembro que, em Maringá, o ‘Titanic’ passou no Cine Maringá e ficou um bom tempo lá”, acrescentando que, depois, as exibições passaram para salas em shopping centers.
Bulga destaca que, hoje, tem uma concorrência muito forte do streaming e da janela mais curta entre as plataformas de exibição. Aliás, o jornalista não acredita mais que um “arrasa-quarteirão” possa ficar meses em cartaz. “Porque não existe mais espaço para isso, não existe mais público”, observando que hoje se trata de uma plateia imediatista. “Antes, você tinha um conceito de cinema de rua, era um conceito como se fosse um evento familiar, um evento social. Hoje é algo mais focado para uma plateia de adolescentes, focada apenas na diversão e no entretenimento”.