O Brasil voltou a reduzir o número de pessoas em situação de pobreza em 2024, mas o avanço poderia ter sido mais expressivo. A inflação dos alimentos freou o ritmo da melhora social, e a projeção para 2025 indica que o processo de redução da miséria deve continuar, porém a passos lentos.
Segundo dados do Banco Mundial, 20,9% da população brasileira viveu com menos de US$ 6,85 por dia no ano passado — patamar considerado de pobreza na medição internacional. É o terceiro ano consecutivo de queda, e o segundo melhor resultado desde 1981, quando começou a série histórica. Só perde para 2020, quando os auxílios emergenciais distribuídos na pandemia derrubaram a taxa para 18,7%.
Ainda assim, a inflação, especialmente dos alimentos (com alta de 7,7% em 2024), corroeu o poder de compra das famílias mais pobres. O reajuste de 2% acima da inflação no salário mínimo ajudou a atenuar parte das perdas, mas não foi suficiente para impulsionar uma queda mais intensa.
Em perspectiva regional, o Brasil segue atrás de vizinhos como:
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🇨🇱 Chile: 4,6%
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🇺🇾 Uruguai: 6,7%
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🇦🇷 Argentina: 13,3%
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🇧🇴 Bolívia: 14,1%
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🇵🇾 Paraguai: 16,2%
Além da pobreza, a desigualdade continua sendo uma das mais altas do planeta. O índice de Gini caiu para 51,6 em 2023 (ante 52,9 em 2021), mas ainda está muito acima do parâmetro de “desigualdade moderada”, que é 40. O retrato da desigualdade no Brasil é agravado por marcadores regionais e sociais: enquanto Santa Catarina tem taxa de pobreza de 8%, no Maranhão ela salta para 44%. Em domicílios chefiados por mulheres negras, o índice é de 34% — quase três vezes mais do que em casas lideradas por homens brancos (9%).
Para 2025, a expectativa é de uma nova redução na pobreza, mas de apenas 0,2 ponto percentual. A projeção considera um cenário de menor crescimento nos gastos sociais, especialmente no Bolsa Família.
“Com o espaço fiscal limitado, o Brasil dependerá cada vez mais do mercado de trabalho para reduzir a pobreza. Será essencial melhorar o acesso dos mais pobres a empregos de qualidade”, destaca o Banco Mundial.
Atualmente, o desemprego atinge 26% dos pobres — cinco vezes mais do que entre os não pobres. A informalidade também pesa: atinge 68% dos trabalhadores mais pobres, enquanto nos demais essa taxa é de 36%. Para mudar esse cenário, o relatório recomenda investir em intermediação de mão de obra, qualificação profissional e em setores com potencial para gerar ocupações mais estáveis e melhor remuneradas.
Com informações de Valor Econômico.