A Operação Mafiusi, conduzida pela Polícia Federal e pela 23ª Vara Federal de Curitiba, vem revelando, ao longo de 2025, uma teia complexa que conecta lavagem de dinheiro do narcotráfico internacional, empresas de fachada, figuras do meio esportivo e até autoridades públicas.
A ofensiva começou em dezembro de 2024, com uma investigação sobre envio de cocaína da América do Sul para a Europa, e ganhou novas fases em março e outubro de 2025, quando surgiram indícios de lavagem de capitais no Brasil por meio de fintechs, clubes de futebol e contratos falsos.
Primeira fase: a ligação com a máfia italiana e o tráfico internacional
Na etapa inicial, a PF desmantelou uma rede responsável por enviar toneladas de cocaína à Europa. A droga saía de portos brasileiros, como o de Paranaguá (PR), escondida em contêineres de cerâmica e madeira, com destino a Valência (Espanha) e Bélgica, usando navios cargueiros e aeronaves privadas.
A investigação, conduzida em parceria com o Ministério Público Federal, o Ministério Público de Turim (Itália), a Europol e a Eurojust, identificou conexões diretas entre facções brasileiras e a máfia italiana, principalmente através de operações financeiras ilegais.
Segunda fase: o futebol na mira
Em março de 2025, a Mafiusi voltou aos holofotes após a PF identificar supostas conexões entre o empresário esportivo José Celso de Moraes — o “parça de Neymar” — e integrantes do PCC.
Relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostraram transferências que somam R$ 120 mil de Moraes para Rany Alessandra Arrabal, esposa de Willian Agati, apontado como concierge da alta cúpula do PCC e chefe do esquema de tráfico internacional.
Segundo a PF, Moraes admitiu ter feito as transações, alegando tratar-se de um empréstimo obtido com Agati “em momento de dificuldade financeira”. O empresário é sócio da BBM Sports e atua no Maringá FC e em outros clubes, como o Monte Azul (SP) — onde o pai de Neymar atua como consultor.
As apurações apontam que parte do dinheiro do tráfico pode ter sido injetada em clubes de futebol e empresas esportivas como forma de lavagem de capitais, aproveitando contratos e patrocínios para mascarar as origens ilícitas.
Terceira fase: o núcleo financeiro e a conexão com Maringá
A nova fase, deflagrada em 16 de outubro de 2025, mirou o núcleo financeiro da organização criminosa, com mandados em nove cidades e três prisões preventivas.
Em Maringá, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do secretário municipal de Fazenda, Carlos Augusto Ferreira, onde foram apreendidos três carros de luxo — uma Ferrari, uma Porsche e uma Mercedes.
O inquérito aponta que Ferreira teria oferecido a estrutura de uma fintech de crédito — a Pinbank, onde atuou como presidente — para movimentar recursos sem origem conhecida, supostamente ligados ao grupo criminoso.
Conversas anexadas à investigação mostram que o secretário mantinha contato com um dos presos, acusado de emitir notas fiscais frias para o esquema de lavagem de dinheiro.
Após a operação, Ferreira pediu afastamento do cargo e declarou desconhecer o motivo da investigação, afirmando que “nada ilícito foi encontrado” em sua residência.
A Prefeitura de Maringá reforçou, em nota, que “a investigação não tem relação com a gestão municipal” e que “todas as certidões exigidas no processo de nomeação estavam regulares”.
Repercussão política e cobranças
O caso teve forte repercussão em Maringá. O prefeito Silvio Barros (PP) ainda não se pronunciou publicamente, e removeu de suas redes sociais o vídeo de nomeação de Ferreira.
A vereadora Professora Ana Lúcia (PDT) e o ex-deputado Homero Marchese (Novo) cobraram posicionamento do prefeito, enquanto o ex-prefeito Ulisses Maia (PSD) destacou que “ética e transparência são pilares de qualquer gestão”.
O que falta esclarecer
A Polícia Federal segue apurando a participação de empresários, servidores públicos e clubes de futebol no esquema.
As linhas de investigação atuais se concentram em:
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lavagem de dinheiro por meio de fintechs, apostas e clubes esportivos,
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uso de empresas de fachada para ocultar ganhos ilícitos,
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e conexões financeiras entre o tráfico internacional, o PCC e empresários brasileiros.
A Operação Mafiusi já soma mais de R$ 13,8 milhões bloqueados em bens e valores e deve continuar com novas fases nos próximos meses, para rastrear ativos no exterior e identificar eventuais ramificações políticas e empresariais ligadas ao esquema.















