Entre julho e novembro de 2020, mais de 1,6 milhão de crianças e adolescentes de até 17 anos não estavam estudando no Brasil. A conclusão é de um estudo da Fundação Abrinq sobre a situação da infância e adolescência no país. Os mais prejudicados são as crianças de até seis anos e os adolescentes de 15 a 17 anos, que estão no ensino médio. No período, cerca de 4,6 milhões de alunos não receberam atividades para realizar em casa, mesmo que estivessem tendo aulas remotas. A situação é ainda mais grave entre famílias cadastrados no Bolsa Família
O gerente-executivo da Fundação Abrinq, Victor Graça, destaca que os problemas na educação já existiam muito antes da pandemia, mas foram intensificados. “Na educação infantil é muito importante ter esse acesso porque mais de 50% das famílias são lideradas por mulheres, que precisam colocar as crianças na educação infantil. Como ela faz sem acesso? Uma parte recebe [os materiais] e não consegue fazer atividades e tem atividades que a criança precisa de interação, não se brinca de roda ou pega pega online. Teremos um prejuízo. Adolescentes que estão no ensino médio já existia uma evasão muito grande”, explica. O que a experiência mostra é que manter estudantes dentro das salas de aula também reduz índices de desnutrição. O estudo revelou que 1,2 milhão de crianças menores de cinco anos sofrem com déficit de crescimento. A pobreza também fica evidente: 1,6 milhão de brasileiros entre 5 e 17 anos precisam trabalhar para ajudar a família.
Victor Graça ressalta que manter as escolas funcionando, mesmo em meio à aos avanços da Covid-19, não traz benefícios apenas para o aprendizado. “A escola é um espaço onde você detecta violência, detecta trabalho infantil. Então, de novo, precisa ter uma volta com segurança, uma volta com protocolos, uma volta com diagnósticos. Um plano de ação que, provavelmente, vai levar uns dois anos para recuperar”, disse. Ainda segundo a Fundação Abrinq, a vacinação é outro ponto de atenção, já que nos últimos anos a aplicação de vacinas obrigatórias em crianças com menos de um ano de idade caiu, aumentando as possibilidades de surtos de doenças consideradas controladas. Em 2014, a cobertura vacinal nessa faixa etária alcançou 94,4%, patamar que recuou para 82,1% em 2017 e chegou em 79,6% em 2019. O estudo aponta ainda que 20 milhões de crianças estão vivendo em situação de pobreza e extrema pobreza.