CIDADE

Ato em defesa do livro ‘O avesso da pele’ será no próximo sábado (9), em Maringá

Diante do caso de censura do livro “O avesso da pele” no Paraná e Rio Grande do Sul, está programado em Maringá um ato em defesa desse livro escrito por Jeferson Tenório. A manifestação será no próximo sábado, 9 de março, às 9h, em frente da Biblioteca Centro (avenida Horácio Raccanello Filho, 6.090 – Novo Centro).

Aliás, a rede municipal de bibliotecas de Maringá conta com quatro exemplares à disposição dos leitores e leitoras para empréstimo. Trata-se de um romance sobre identidade e as complexas relações raciais, sobre violência e negritude.

À frente da criação do manifesto maringaense, a socióloga e ativista do movimento negro educador Sara Araujo conta à reportagem que, na manhã desta quarta-feira, 6 de março, levou a ideia para o grupo formado por diversos agentes culturais na cidade, que estão inseridos em clubes de livros, por exemplo, e fez a proposição de se reunirem para fazer um ato em defesa do Jeferson Tenório.

Além desse ato presencial, manifestações virtuais também são bem-vindas com fotos ou vídeos nas redes sociais empunhando o livro em questão, marcando o autor e a editora.

“Vou puxar a pauta para o resto do Brasil. A ideia é movimentar as redes sociais também. Eu pretendo levar isso a diversas canais que eu tenho acesso, que eu faço parte de movimentos negros, para que a gente engrosse o caldo, para que a gente reforce e convoque toda a população a se posicinar contra esse ato tão obscurantista”, diz Araujo, destacando que “censura nunca mais”.

Entenda o caso

Vencedor do prestigiado Prêmio Jabuti em 2021, “O avesso da pele” foi envolvido em polêmica recente. A diretora de uma escola de Santa Cruz do Sul (RS) divulgou um vídeo acusando a obra de Tenório de conter palavras de “baixo calão”.

Como consequência, a 6° Corregedoria Regional de Educação mandou recolher a obra das escolas até uma resposta do governo federal.

Nesse sentido, a Companhia das Letras, editora que publica “O avesso da pele”, se manifestou contra essa censura. “A retirada de exemplares de um livro, baseada em uma interpretação distorcida e descontextualizada de trechos isolados, é um ato que viola os princípios fundamentais da educação e da democracia, empobrece o debate cultural e mina a capacidade dos estudantes de desenvolverem pensamento crítico e reflexivo”, diz, em suas redes sociais.

A Companhia ainda esclarece que “O avesso da pele” foi inscrito e avaliado pelo Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD 2021) para ser trabalhada no Ensino Médio. Em outras palavras, passou pela aprovação de uma banca de educadores, especialistas e mestres em literatura e língua portuguesa juntamente com outros 530 títulos.

“Para chegar ao colégio em questão, ainda precisou passar ser aprovado pela própria diretora, que assinou o documento de ‘ata de escolha’ da obra e agora contesta o conteúdo do livro. Esses dados são transparentes e públicos”, diz a editora.

Desse modo, a Cia das Letras repudia “veementemente qualquer ato de censura que limite o acesso dos estudantes a obras literárias sob pretexto de protegê-los de conteúdos considerados ‘inadequados’ por opiniões pessoais e leituras de trechos fora de contexto. O que se destaca em ‘O avesso da pele’ não é uma cena, tampouco a linguagem, mas sim a contundente denúncia do racismo que se imiscui em todas as nossas relações, até as mais íntimas.

Enredo
“O avesso da pele” é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos.

“Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos”, diz o texto de divulgação do livro.

“O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade”.

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